O desaparecimento de crianças e adolescentes está entre as principais preocupações de pais e responsáveis com crianças e adolescentes. Em Sergipe, de janeiro de 2021 a abril de 2023, 320 jovens foram dados como desaparecidos, segundo dados reunidos pela Coordenadoria de Estatística e Análise Criminal (CEACrim), da Secretaria da Segurança Pública (SSP). Apenas nos quatro primeiros meses deste ano, já são 59 crianças e adolescentes com registro de desaparecimento em Sergipe. Os dados acendem o alerta neste Dia Internacional das Criança Desaparecida, 25 de maio.
A data faz alusão ao desaparecimento do menino de seis anos Etan Patz, em 25 de maio de 1979. Ele desapareceu nas ruas da cidade estadunidense de Nova Iorque, enquanto voltava da escola. A criança não chegou a ser encontrada. Atualmente, a data é utilizada como alerta para os cuidados que se é preciso ter por pais, responsáveis e por toda a sociedade para que desaparecimentos sejam evitados.
E os números de desaparecimentos de crianças e adolescentes continuam sendo alarmantes a nível mundial, o que não seria diferente no cenário brasileiro. Em Sergipe, ainda conforme o levantamento da CEACRim, da SSP, durante todo o ano de 2021, 112 crianças e adolescentes foram registrados como desaparecidos no estado. No ano seguinte, 2022, foram registrados 149 jovens desaparecidos.
Por isso, é preciso manter o alerta para os cuidados que é preciso ter para evitar o desaparecimento de crianças e adolescentes. O delegado Ronaldo Marinho, da Delegacia Especial de Atendimento à Criança e ao Adolescente Vítima (Deacav), vinculada ao Departamento de Atendimento a Grupos Vulneráveis (DAGV), da Polícia Civil de Sergipe, explicou o que é caracterizado como desaparecimento.
“O desaparecimento de crianças e adolescentes, bem como de adultos, é um problema de política pública. O desaparecimento é a ausência completa de qualquer tipo de informação sobre uma pessoa e pode acontecer por minutos, às vezes você está com a criança, olha para o lado e não encontra mais essa criança. Se você não sabe onde ela está, ela está desaparecida”, especificou Ronaldo Marinho.
Conforme o delegado, o desaparecimento envolve situações em que crianças ou adolescentes não são encontrados nos locais em que comumente costuma frequentar. “Quando se procura essa criança e não a encontra em casa, na escola ou em qualquer situação semelhante, ela é considerada desaparecida. No primeiro momento, em que você faz aquela busca na família e na vizinhança e a criança não é encontrada, é preciso ir imediatamente registrar o boletim de ocorrência”, alertou.
Sinais de alerta
Em Sergipe, 80% dos desaparecimentos registrados são de crianças e adolescentes. Assim, Ronaldo Marinho revelou as situações que comumente podem desencadear no desaparecimento de crianças e adolescentes. “A criança muitas vezes desaparece por questões voluntárias, quando está brincando ou sai para uma casa de amigo ou de um parente, e se perde no caminho. Acontece muito isso também. Mas, também acontecem casos de sequestro”, comentou.
Ainda conforme o delegado, há diversos casos em que o desaparecimento é motivado por conflitos familiares. “Como brigas familiares e desajustes da família que levam a criança ou o adolescente a sair de casa. Esse é um problema que a gente tem que enfrentar e, ao identificar isso, buscar toda a rede de proteção à criança e ao adolescente. Até porque essas crianças e adolescentes podem ser inseridas em redes de prostituição ou mesmo de adoação ilegal”, acrescentou.
Nesse contexto, Ronaldo Marinho relembrou que o momento vivido nos últimos anos com questões de saúde a nível mundial, também podem estar relacionados com os desaparecimentos de crianças e adolescentes. “O processo de pandemia criou uma série de problemas com acompanhamento psicológico e esses fatores devem ser observados na criança e no adolescente. São sinais que o jovem apresenta e que demonstra necessidade de um atendimento mais detalhado com profissionais habilitados”, alertou.
Por isso, é fundamental estar atento ao comportamento das crianças e adolescentes, já que é através dessa análise comportamental que podem ser identificados sinais de que os jovens podem entrar em situações de desaparecimento. “Então a orientação que nós damos é que, ao identificar alguma mudança de comportamento do seu filho ou da sua filha, busque ajuda e orientação para identificar a raiz desse problema. Assim, podemos evitar que essa criança ou adolescente venha a desaparecer”, mencionou o delegado.
Orientações
O delegado Ronaldo Marinho destacou que é preciso ter cuidado com as crianças e adolescentes, além de orientá-los. “As crianças precisam saber o nome do pai e da mãe, pois às vezes não sabem dizer o nome dos responsáveis. Também é interessante que a criança saiba o nome do bairro em que mora e da cidade em que vive, já que são informações relevantes para facilitar que a polícia encontre os pais e responsáveis da criança a qual está desaparecida”, complementou.
Ainda conforme o delegado, ao procurar a polícia, os pais e responsáveis devem estar munidos de informações que irão auxiliar o trabalho de busca. “Nós orientamos que as pessoas responsáveis se dirijam imediatamente a uma delegacia de polícia, mas é interessante que se leve fotos atuais e informações sobre quais roupas a criança ou adolescente vestia, sobre amizades ou detalhes acerca do comportamento para a gente identificar o perfil e fazer a busca para encontrar a pessoa desaparecida”, orientou.
Acionamento e busca
Mesmo sem indicação de que o desaparecimento pode estar ligado à prática de algum crime, o Centro Integrado de Operações em Segurança Pública (Ciosp) dá atenção especial às situações de pessoas desaparecidas, conforme explicou o major Daniel Couto, diretor do Centro Integrado de Operações em Segurança Pública (Ciosp – 190). “Os nossos colaboradores estão preparados, e a gente tem protocolos voltados para esse tipo de demanda. Nós separamos pessoas desaparecidas vulneráveis – idosos, crianças e pessoas – e pessoas adultas”, comentou.
Com as informações comunicadas à polícia, as equipes mais próximas ao local acionadas. “Apesar da pouca incidência desse tipo de ligação, o Ciosp dá uma atenção especial a esse tipo de ocorrência. Aproximadamente, por ano, são 200 ocorrências de desaparecimento de pessoas, que compreende 0,20% do total das ocorrências do Ciosp. Nós estamos disponíveis para realizar esse atendimento e dar o devido encaminhamento a fim de encontrar essas pessoas”, ressaltou o diretor do Ciosp.
Delegacia especializada
Em Aracaju, a Deacav fica localizada no DAGV, que fica situado na rua Itabaiana, nº 258, no bairro São José, na região central de Aracaju. Os casos também podem ser comunicados com o registro do boletim de ocorrência em qualquer delegacia da Polícia Civil, Informações sobre pessoas desaparecidas podem ser encaminhadas à polícia por meio do Disque-Denúncia, no telefone 181. Os casos de urgência e flagrantes podem ser direcionados à Polícia Militar pelo telefone 190.
Fonte: SSP/SE